DOENÇAS QUE SÃO MAIS COMUNS EM AFRODESCENTES 

Os negros aportaram involuntariamente no Brasil, participando de modo incisivo na formação étnica brasileira, junto com os brancos e com os nativos (indígenas). Especialmente nas gerações do século XX, ampliou-se a miscigenação com povos de outras origens, em aglomerações espaciais razoavelmente definidas, segundo as procedências das diversas correntes migratórias e tendências histórico-culturais da origem dos grupos. O resultado foi e tem sido uma “etnia brasileira” de difícil classificação antropológica, sem uma raça bem caracterizada no país como um todo, mas com indiscutível predominância da mistura entre negros e brancos. Pelas evidentes dificuldades para classificação, todas aquelas usadas no país estão sujeitas a críticas. A clássica categorização racial em negra, parda e branca, não satisfaz. Aqueles denominados “pardos” ou mulatos, nem sempre são miscigenados com o negro. Assim, estudos epidemiológicos de prevalência de doenças em grupos étnicos no Brasil é bastante complexo, sendo a maioria dos estudos sobre isso realizado em países com menor miscigenação que mostram maior prevalência de algumas doenças entre negros. A boa notícia é que a surdez é menos comum em afrodescentes.

Prof Dr Robinson Koji Tsuji

ANEMIA FALCIFORME

A anemia falciforme e a doença hereditária mais comum do Brasil. Sua causa é uma mutação do gene da globina beta da hemoglobina, originando uma hemoglobina anormal, denominada hemoglobina S (HbS), que substitui a hemoglobina A (HbA) nos indivíduos afetados.  Sob determinadas condições, especialmente a desoxigenação, as moléculas desta hemoglobina (denominada HbS) podem sofrer polimerização, o que provoca uma deformidade e enrijecimento dos glóbulos vermelhos, afetando sua passagem pelos pequenos vasos e capilares. Como conseqüência, ocorrem fenômenos de oclusão de pequenos vasos, causando enfartes com lesões de órgãos diversos e episódios de dor. As hemácias deformadas e enrijecidas sobrevivem menos em circulação: sua destruição precoce é a principal causa da anemia nestas doenças.

A doença originou-se na África, estendeu-se para a Península Arábica, sul da Itália e Índia, chegando às Américas pela imigração forçada de cerca de 3 – 4 milhões de africanos trazidos ao país como escravos. No Brasil, distribui-se heterogeneamente, sendo mais freqüente onde a proporção de antepassados negros da população é maior (nordeste). Além da África e Américas, é hoje encontrada na Europa, em virtude da migração voluntária da África e do Caribe, principalmente para a Inglaterra, França, Bélgica, Holanda e Alemanha, e em grandes regiões da Ásia. No Brasil, a doença é predominante entre negros e pardos, porém também ocorre entre brancos devido a nossa grande miscigenação.

 

DEFICIÊNCIA DE GLICOSE-6-FOSFATO DESIDROGENASE

A deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase é um defeito enzimático das hemácias que pode causar episódios de hemólise aguda, ou anemia hemolítica crônica, ou ainda ser assintomático. De fato, a maioria dos afetados são assintomáticos. É o defeito enzimático mais comum da espécie humana, sendo encontrado em muitas populações e com maior freqüência entre negros africanos e em mediterrâneos.

Caracteriza-se por uma crise hemolítica (destruição de hemácias) induzido pelo uso de um determinado medicação levando a anemia aguda. Também é causa de icterícia neonatal (Kernicterus) e anemia crônica.

Medicamentos que podem desencadear a anemia nos pacientes com deficiência de Glisose-6-fostato desidrogenase:

  • Antimicrobiano: Cloranfenicol Furacina Furadantina Ácido Nalidixico
  • Analgésicos: Ácido acetil salicílico (aspirina), Paracetamol (tylenol)
  • Antimaláricos: Primaquina, Atabrina
  • Sulfonas e Sulfonamidas: Sulfanilamida, Gantrisin, Dapsona
  • Miscelânea: Naftalina, Vitamina K, Ácido ascórbico

 

HIPERTENSÃO ARTERIAL – HA

A HA é uma doença crônica muito comum em nosso meio e que pode ter consequências graves em nosso organismo, devendo ser sempre tratada com ou sem medicamento.

É definida como a pressão arterial acima de 140 x 90 mmHg, sendo que medidas acima de 130 x 85 mmHg é considerada como normal alta.

Nos Estados Unidos, a HA tem sido, sempre, até 2 vezes maior entre os afro-americanos. Os negros desenvolvem HA em idades mais precoces do que os brancos e detêm as taxas mais elevadas de HA severa. As diferenças raciais expressam-se desde criança, tornando-se significantes já na adolescência.

 

DIABETES MELLITUS

O diabetes mellitus é um distúrbio metabólico de etiologia múltipla, caracterizado por uma hiperglicemia crônica, decorrente tanto de uma deficiência de insulina, como da incapacidade da insulina exercer adequadamente seus efeitos, ou de uma combinação, em graus variáveis, dessas condições. Após alguns anos de evolução, é freqüentemente acompanhado por danos, disfunção e falência de vários órgãos ou sistemas, como olhos, rins, coração, nervos e vasos sangüíneos. O diabetes pode se apresentar com sintomas característicos, como sede excessiva, poliúria, borramento da visão e perda de peso. Em algumas formas mais graves, pode ocorrer cetoacidose ou estado hiperosmolar não-cetótico, que leva ao torpor, coma e, na ausência de tratamento adequado, à morte. O valor normal da glicemia aceita atualmente é de até 110 mg/dl.

Diversos estudos realizados em outros países mostram que a prevalência de diabetes melitus tipo 2 (DM2) e a intolerância a glicose é maior entre os negros do que entre os indivíduos da raça branca. Ainda não estão bem estabelecidas as razões destas diferenças raciais. Alguns estudos indicam que fatores ambientais e comportamentais têm um papel importante como determinante no desenvolvimento de DM2. Isto é exemplificado pela maior prevalência de DM2 nos japoneses que moram nos EUA do que naqueles que vivem em Hiroshima, no Japão. Esta prevalência de DM seria, portanto, determinada por interação de fatores genéticos, ambientais e culturais. Alguns autores defendem que o mecanismo primário para o desenvolvimento de DM2 nos negros seria a hiperinsulinemia e a resistência à insulina. Um estudo realizado em Salvador com mulheres obesas mostrou que a diabetes e a intolerância à glicose foi 1,9 vezes mais comum no grupo de mulheres com pele escura.

Estudos mostram que pacientes diabéticos têm maior chance de desenvolver surdez.

 

SÍNDROMES HIPERTENSIVAS NA GRAVIDEZ

Duas formas principais de hipertensão arterial podem complicar a gravidez: pré-eclâmpsia e hipertensão arterial crônica, que ocorrem individualizada ou associadamente (pré-eclâmspia sobreposta). Hipertensão arterial crônica se refere à hipertensão de qualquer etiologia (primária, em 90% dos casos), que está presente antes da gravidez ou da vigésima semana de gestação. A denominação "crônica" é utilizada meramente para fazer oposição semântica à natureza súbita e reversível da pré-eclâmspia . Pré-eclâmpsia, ou doença hipertensiva específica da gravidez, é uma doença hipertensiva peculiar à gravidez humana, que ocorre principalmente em primigestas após a vigésima semana de gestação, mais freqüentemente próximo ao termo. Envolve virtualmente cada órgão e sistema do organismo e é a principal causa de morbidade e de mortalidade, tanto materna quanto fetal.

Uma impressão não confirmada é que mulheres afro-descendentes são mais susceptíveis ao desenvolvimento de pré-eclâmpsia do que mulheres caucasianas e essa noção tem sido atribuída tanto às diferenças de classe social como à diversidade étnica propriamente. Além disso, como a prevalência de hipertensão arterial crônica em mulheres afro-americanas é maior do que em pacientes brancas, o diagnóstico diferencial errôneo entre pré-eclâmpsia e hipertensão arterial crônica pode ser o responsável pela idéia de que mulheres afro-descendentes são mais susceptíveis à pré-eclâmpsia.

 

SURDEZ

A boa notícia é que afrodescentes têm MENOR risco de desenvolver surdez. Estudos epidemiológicos de base populacional têm consistentemente demonstrado menores taxas de perda auditiva entre os negros do que brancos com as chances de perda auditiva geralmente 40-60% mais baixa em indivíduos negros.

Uma série de mecanismos podem ser teoricamente implicados na associação observada entre raça e perda de audição. Os melanócitos, os quais produzem o pigmento melanina que determina a cor da pele estão presentes tanto na pele e cóclea. O aumento da melanina no ouvido interno, podem, posteriormente, proteger a cóclea contra morte das células ciliadas relacionados com a idade em indivíduos de pele mais escura. Outro fator é o genético, uma vez que algumas causas de surdez comprovadamente de origem genética como a otosclerose são mais comuns de indivíduos da cor branca.

 

Fonte: Manual de doenças mais importantes por razões étnicas na população brasileira afro-descendente – Ministério da saúde.

Link: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd06_09.pdf

Prof Dr Robinson Koji Tsuji - CRM97471


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